Fazia tempo que não dedicava um tempo para escrever por aqui. Talvez a mídia que mais goste e me sinta bem para discorrer algumas ideias. É aqui, também que prefiro colocar assuntos mais polêmicos ou contra-pontos. Então vamos matar a saudade falando um pouco sobre o outro lado do que tem sido falado sobre a mais nova rede sociais: o ClubHouse.
Demorei um pouco para falar, apesar de já estar nela há alguns dias, porque precisava ter uma opinião um pouco mais elaborada, apesar de ainda muito prematura, confesso. Mas, você me conhece, quero te provocar a pensar sobre e, claro, sempre à luz da comunicação cristã, que é o nosso assunto aqui na ChurchCOM.
Estou ainda me perguntando como as igrejas podem embarcar nessa onda e, claro, há pontos bem interessantes e já vejo algumas comunidades se aventurando nesta rede. Por exemplo, amanhã participo de uma conversa sobre criatividade na igreja, às 19h, em uma sala criada pela Igreja Red que, por sinal, dá um show nas inovações e na coragem de ousar (procure nos perfis dos pastores a abertura da igreja ao som de Raça Negra. Genial!)
Mas voltando ao assunto, as igrejas podem sim tomar proveito desta rede social para promover eventos, fazer pequenos/grandes grupos de conversa e discipulado, pensar em EBDs por áudio, pregações e, até, cultos de domingo a partir de uma sala no ClubHouse. Mais um jeito de alcançar pessoas! Inegável.
Mas, já parou para pensar o que está por traz do hype e que já temos alguns indícios de que podem se tornar desafios para nós, individualmente, e para nossas igrejas?
Vou listar alguns pontos que pensei por aqui para deixar para você pensar mais sobre isso.
1) FOMO -> Fear of Missing Out - que traduzido em português significaria, literalmente, o “medo de estar perdendo algo”, é uma teoria que é muito utilizada como gatilho para marketing no mercado. O ClubHouse, por sua linguagem "ao vivo" e de comunidade me parece que traz essa lógica embutida nele. Se você não estiver naquela comunidade, naquele momento perderá uma discussão necessária. Será? Isso é um perígo quando damos conta de que estamos em uma sociedade de consumo digital altíssimo (9h/dia per capta no Brasil) e em um mundo ansioso e líquido. O formato baseado no imediato e efêmero pode ser um estimulo para ampliação de pessoas, em volta de nossas comunidades, ansiosas por não perderem um momento. E, aí, fico pensando que Jesus, o Deus Eterno e que está fora do tempo - apesar de colocar sua vinda como um fato urgente - ouvir, falou, parou, sentou, curou, tocou.... Cuide para não aumentar esse ciclo por meio dessa ferramenta em sua comunidade.
2) Adicção -> um dos grandes vícios do mundo Pós-digital é a tecnologia. Pessoas estão se viciando nas plataformas e nos meios digitais tal qual uma droga. Como ouvimos no documento "The Social Dilemma", do Netflix, os dois únicos mercados que tratam pessoas como "usuários" são o digital e o de drogas. Nestes primeiros dias, ao zapear no ClubHouse, vi amigos meus quase que o dia inteiro pendurados de sala em sala. Novo vício? Será que estão deixando seus afazeres de lado para ficar "por dentro dos assuntos"? E as famílias em volta? E o trabalho? Esse é um cuidado que vejo também. É uma rede que demanda atenção e tempo para acompanhar tudo que se pode absorver e, para se tornar um vício, é rápido.
3) A cultura do cancelamento vai aumentar -> escreva isso. Enquanto o ambiente está controlado e as pessoas ainda estão tentando se mostrar "early adoperes" (usuários iniciais), tudo é lindo. As discussões estão ainda em alto nível Mas e depois? Será que as discussões se manterão? Num mundo polarizado que vivemos, será que teremos capacidade de ouvir e lidar com contrapontos e divergentes ou iremos promover o cancelamento ao vivo em discussões que poderão ser acaloradas em em "praça pública"? Sinceramente, este é mais um ponto que precisamos lidar, principalmente quando temos uma prática de missão impositiva em muitos casos. "Somos os certos!?". "Os eleitos" e fechamos os ouvidos e os olhos para tudo que não nos é favorável. Pense nisso.
4) A selfie mudou de formato e virou áudio -> já ouvi muitos relatos do tipo. Nos libertamos das selfies, das superficialidade das imagens e, por aí, vai. Será, meu amado "cara pálida"? Em tudo que temos na internet, temos a possibilidade de criar a partir de nossos bunkers criando avatares ou personagens que, apesar de sair como nossas vozes no caso do ClubHouse, não necessariamente é uma "imagem/áudio" real, verdadeiro ou tangível. Tudo no digital, se não tiver toque e vida-na-vida, pode ser superficial e vazio. Então, descordo veementemente de que nos livramos das selfies. Cuidado com isso. Continuamos em um mundo possível de ser fantasiado, principalmente porque o que vi até aqui em muitas salas são conteúdos dotados de auto-promoção tal qual um cartão de visita falado, Uma frase de efeito, um pensamento e um "você pode encontrar meu curso no site", "veja meu blog tal", "acesse meu curso aqui" e, por aí, vai.
Então, desde já, peço perdão por essa visão pessimista sobre o ClubHouse. Confesso que o achei "interessantinho", nada além disso. E, sinceramente, acho que a vida dele será tão longa quanto o Periscope e redes sociais que faliram ao longo do tempo porque seu uso é comum e, talvez, pior do que mídias mais antigas de áudio como o podcast que, para a internet onde a busca é o motor de navegação, parece ter mais sentido por conta de sua perenidade e multicanalidade.
Pense antes de embarcar nessa. Leia os reviews positivos também para poder decidir como aplicar e, se é validar adicionar, o ClubHouse em sua comunidade!
Grande abraço! Foi muito gostoso voltar a dedicar esse tempo e essas linhas de pensamento corrido e "alto" com você aqui no blog!
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